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14 fevereiro, 2010

Fantasmas

Quantas vezes perguntas pelo amor, enquanto o mundo adormece os seus ruídos e a obscuridade toma conta das coisas, inunda as árvores, depois as casas, até se mover sobre a superfície dos objectos e o alargado ambiente dos quartos onde te sentas e te questionas. Vem a noite, fecundando o mistério da vida por entre as paredes, escorrendo das mãos, serpenteando o teu chão no ziguezaguear das imagens empurradas no torpor do tempo, atravessando as réstias do dia e tu cada vez mais perto desse não sei o quê que és tu e o teu modo comovido de olhar para o mundo e sentir a vida.
Nesses dias, sabes que ninguém tem bem a certeza do que é, senão um sonho estranho reduzido a mil partículas de sentimentos e de matéria. E o amor, por esses lugares desencontrados de fúria e de evasão, de fendas humanas e sublimes munições de factos e corações com asas que falam, versos simples que matam, não é mais do que as tuas nãos que se perdem pelos arvoredos e as histórias do mar que rasgam longos caminhos pelo teu corpo e outros segredos que escorregam pela ansiedade da tua ternura e a sobriedade dos teus feitiços.
Assim, na infinita ternura dos teus gestos, descobres a verdade do teu véu, onde ficas envolvida em laços de esperança, onde te consomes de ébrias danças encantadas de paixões reprimidas, de luas momentâneas e fábulas absolutas em torno de momentos inseparáveis que vão espreitando e experimentando a brisa da tua loucura e da tua fé, como se o planeta nos teus pés absorvesse toda a tua energia, e toda a tua incontida consciência de vida e de orgasmo se dissolvesse, impunemente, em ti.
Mas quando chegas a casa e adormeces o teu vestido, já rendida à sombra e ao fulgor da escuridão que te assalta o chão pelas frinchas e as janelas mudas, colocas a tua febre de amor ao lado das estrelas que recolheste das noites inquietas. E só depois de já lavados os olhos e a interioridade do espírito, vigias o universo sobre o parapeito da tua varanda, desarmada e destemida, como se tudo fosse real e acreditasses, por fim, que à tona do teu rosto, sem palavras na inconstante fogosidade do coração, este emaranhado de emoções te pudesse, de algum modo, levar num magnetismo de absorção para lá de ti e da aparência das coisas, desde a amplitude do mundo até à particularidade dos fantasmas, conduzindo sem tréguas, a tua realidade a um final diferente.

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