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25 fevereiro, 2010

As invisibilidades do Triunfo




Atravessei os impérios, atravessei as sombras e os fragmentos de toda a nossa existência. Atravessei os heróis amontoados sobre as estradas, à porta dos edifícios, defronte ao fogo, sempre inconformados com a mesma desilusão, sempre irrequietos com a mesma estranha vontade de partir, sem nunca conseguirem pronunciar uma só palavra entre a multidão e o medo, entre o eco subterrâneo que nos entrega à imprecisa consciência de luz e de abismo.
Atravessei com toda a minha convulsa febre, as memórias e as pedras indestrutíveis que todos fomos erguendo neste mundo de nuvens; neste mundo que com toda a ternura nos embala, nos persuade e nos agasalha. Afinal, acabamos todos por perdoar, acabamos todos por perceber a inutilidade da nossa raiva e da nossa covardia, acabamos todos por perceber como de algum modo tudo está envolvido numa misteriosa matéria que nos une, nos domina e, incontornavelmente, nos transforma.
A vida é guiada pelo contratempo dos obstáculos e do nosso ser excessivo de desejos e de paixão. Somos moléculas, erros, somos deuses e máscaras defronte a um espelho de contraditórios sentimentos; mas todos, todos respiramos o mesmo milagre, a mesma inspiração dos tolos que sobe aos palcos e aos planetas intactos, a mesma inspiração que faz com que o nosso silêncio expulse e expluda aplausos pelo amplo deslumbramento da alma.
Com o tempo, aprendi a viver com o riso, com o absurdo, com a compreensão e os nervos; mas sobretudo com a ironia e a cólera. Aprendi a dormir com os fracassos, as ameaças, com a terra que se esfarela no esvoaçar das sombras e no fundo grito do vazio. Por muitos motivos, aprendi a dominar os meus impulsos, aprendi a equilibrar-me sobre o chão onde a compreensão das coisas é um lugar frágil e solitário. E tudo isto, sem qualquer espécie de ordem ou de genialidade, senão um esforço mental para que esta tômbola de estrelas e de sentimentos que é o coração, nunca me fechasse a sua cratera de sonhos e de lava.
Por isso, acredito no mundo da forma como o vemos, como o exprimimos, mas também no modo como ele nos toca, nos abstraí e nos conquista. Acredito que mil cavalos atravessam os nossos sonhos todas as noites, fazendo estremecer o nosso corpo submerso de encantos e de irrefutáveis paixões; fazendo dos nossos dias extintos uma luta e uma vingança contra nós mesmos, para que depois da turbulência e da poeira que caiu aos nossos pés, uma lua ressuscite, por fim, no centro do nosso cérebro.
Acredito que depois do arrependimento, da solidão e da forma como sustentamos o nosso sangue, estaremos mais felizes nas águas do nosso sono, estaremos mais felizes e menos desencontrados sob a essência do tempo, estaremos verdadeiramente mais lúcidos entre a nitidez do olhar e os nossos impérios vivos.


Acredito que o mundo é o resto do chão onde me dissipei. .

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