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20 fevereiro, 2010

A estrada vazia

O que somos senão uma combustão de sonhos recriados; fugindo por entre as limalhas ainda vivas dos restos de ontem, depois de ter-mos inventado doces palavras sobre o amor e nunca ter-mos encontrado um equilíbrio ou um paralelismo entre os nossos sentimentos e toda a nossa insustentável vida?
O que é este pêndulo, este tic-tac sem nome que nos persegue como uma sombra atroz acelerando os nossos passos sem se deixar dominar com as nossas teorias condensadas e voláteis? E para quê regressar se os nossos caminhos são indeterminados e os nossos corações fracos, e toda a nossa existência oscila entre as glórias e as derrotas, mas sobretudo, entre a loucura e a esperança de tudo renascer até desabar outra vez num caminho para o abismo e sem fim ao mesmo tempo.
Projectamos os nossos ideais, escondemos os nossos fantasmas, levitamos nos artifícios da luz e somos sempre indivisíveis, mesmo que em cada gomo de sensibilidade que nos arrancam a nossa vida perca um pouco da sua originalidade compulsiva e transcendente. Mesmo que nos levem alguns pedaços do que fomos e todo o nosso deslumbramento de lume encarcerado num só suspiro, numa só vitória, se entregue ao peso de um outro corpo - para arder.
Vivemos entre os mistérios das estradas que inventamos e o desdobramento das nossas conquistas. Vivemos de modo a que sobre o chão deixemos sempre um pouco de nós e, diante do mundo oco, a nossa alma transborde todos os desejos numa final consciência de pureza e absolutismo.
Então para quê duvidar? Então para quê fugir? Então para quê este espesso caminho que se acentua cada vez que o tentamos explicar, cada vez que se aproxima e nos absorve para dentro da sua criação cintilante e vertiginosa?
Somos impossíveis neste grito, neste rosto que estremece diante a estrada vazia. Nunca poderemos regressar, nunca poderemos esperar pelo nosso orgulho. Somos as noites escuras, a estrada que continua sempre sempre sempre diante de nós e a incompreensão da nossa angústia. Nós somos o prazer que nos evapora, somos todos os mundos unos e eléctricos num só corpo pousado sobre o universo. Nós somos os pés frios que caminham para a mais profunda libertação.

2 comentários:

  1. ola ivo, obrigada pela tua segunda visita ao amanha vou vestir-me de azul. fico contente por gostares, embora nao perceba por que nao consegues segui-lo. de qualquer forma, prometo-te uma visita aqui ao magnetismo dos impulsos quando regressar ao pais e tornar tambem a escrever com a regularidade do costume.

    ate breve,

    R

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  2. "O que somos senão uma combustão de sonhos recriados; fugindo por entre as limalhas ainda vivas dos restos de ontem, depois de ter-mos inventado doces palavras sobre o amor e nunca ter-mos encontrado um equilíbrio ou um paralelismo entre os nossos sentimentos e toda a nossa insustentável vida?"

    Uma bela reflexão em prosa poética, uma agradável surpresa passar por aqui! Ficarei atenta!
    Um beijinho em si, Ivo
    Inês Dunas

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