Contador de acesso grátis

25 fevereiro, 2010

A lua desta vez não voltou

A lua desta vez não voltou. A noite ficou vazia e eu tive medo de me afundar nas falésias onde tu te escondes e brilhas. Desta vez também não me despedi dos meus aliados nem fui lá fora ver o céu cinzento para imaginar que seria outro depois do infinito. Desta vez não quis ser só mais um corpo que se levanta para engolir o mar.
(Poderemos nós, decifrar à luz, os segredos que um coração esconde na sua intimidade? E para onde vamos nesta marcha inconstante, repleta de paradoxos existenciais e tambores que esmagam cada dia numa íntima justificação de contentamento? )
Olho para a massa que nos moveu até este poço e sinto uma angústia enorme por tudo o que não tive força de aprisionar, por tudo o que perpetuei atrás dos meus ombros, por tudo o que perdi numa repetição de figuras ilusórias que de nada me serviram e que permaneceram sempre bem no fundo do meu peito para personificarem a minha derrota, súbitas e ziguezagueantes pelas covas do meu caminho.
No entanto, sempre estive aqui diante das estrelas que desenhei no teu repouso. Sempre estive aqui na gestação dos versos que rolam pelo chão com o vento morno de Julho - aqueles versos emergentes de ardor que sempre nos impulsionaram à nossa transição de mundos para uma última fecundação nas órbitas da lua .
Sempre estive aqui com esta esperança aflita de que resistisses ao medo e ao vácuo que esta vida sopra só para nos assustar. Sempre estive aqui subindo e descendo as escadas, à tua procura, à procura da tua inundação de fulgor e de saliva. Sempre estive aqui, reunindo as palavras que o teu coração compõe, que o teu coração estremece, que o teu coração intensifica e prolonga na substância dos sonhos.
E agora, atravesso o quarto e os objectos são apenas objectos, a minha embriaguês é apenas um desencadeamento cru da minha solidão, sem qualquer moralidade nem aparência, apenas eu e a tua imagem desabitada, apenas eu e a cinza das minhas recordações.
Por isso é que desta vez não me levantei só para engolir o mar. Por isso é que desta vez não fui espreitar o céu cinzento nem me imaginei depois do infinito. Desta vez permaneci mudo diante os meus aliados e a noite vazia. Desta vez tive medo de te procurar nas falésias onde tu te escondes e brilhas. E a única certeza que trago, é a funda e visível certeza de que desta vez a lua não voltou.

42 comentários:

  1. Li, reli e treli... fantástico!
    Um abraço!

    ResponderEliminar
  2. E, eu ao ler-te senti em parte aquilo que descreves... ao procurares e, encontrares tudo vazio...são vidas são fases, as diferenças é que os vazios nunca se preenchem, deixando-nos de maos a abanar, num tempo numa hora e num tormento.
    Força continua gostei.

    ResponderEliminar
  3. Que bonito...que profundo...
    Um abraço...

    ResponderEliminar
  4. adorei, muito muito bom =)

    "sempre estive aqui diante das estrelas que desenhei no teu repouso." *.*

    ResponderEliminar
  5. Foi um prazer ter passado por aqui. Gostei de ler

    Beijo

    ResponderEliminar
  6. li duas vezes e a profundidade deste texto encantou-me. parabéns !

    ResponderEliminar
  7. Sensações e percepções descritas e sentidas com distinção.
    Agradavelmente encantador.

    ResponderEliminar
  8. Wow, que textão, Ivo :) Parabéns. Vou voltar cá *

    ResponderEliminar
  9. Passo por cá regularmente. O blogue está a ganhar raízes que a terra agarra com os dentes. Hoje notei uma nuvem diferente pairando sobre a cidade (bela imagem, a propósito), mas a primavera não tinha mudado... para quando um novo texto? um abraço!

    ResponderEliminar
  10. obrigado pelos comentarios e visitas, espero escrever um novo texto o mais breve quanto possivel...

    ResponderEliminar
  11. Gostei mesmo muito do textinho, Parabéns (:
    Vou seguir (:

    Beijinho*

    ResponderEliminar
  12. aqui é tudo muito real dentro da minha cabeça.
    adorei. :)

    ResponderEliminar
  13. texto muito bom ; gostei ! bom blog :) continua *

    ResponderEliminar
  14. estou indecisa no que dizer sobre o texto. está bonito, mas deixa umas ideias no ar que podem gerar contradições, talvez.

    continua a escrever.

    ResponderEliminar
  15. Gosto do blog, do "look" dele principalmente!
    Bom trabalho (:

    ResponderEliminar
  16. adoro o teu tipo de escrita, está lindo mesmo :)(estou a seguir)

    ResponderEliminar
  17. uau :o adorei, vou seguir.te também :)

    beijinho*

    ResponderEliminar
  18. nunca mais escreveste porquê? :o
    escreves tao bem

    ResponderEliminar
  19. a foto está fantástica e o texto não fica atrás. obrigada por seguires:)

    ResponderEliminar
  20. cada um de nos se identica a sua maneira com o k escreveste, pk todos nos ja nos entregamos de uma forma plena, mas tu tens a capacidade de transmitir isso no papel, algo k mt poucas pessoas têm esse dom, fazes o de uma forma, simples directa, mas k nos toca a alma, eu kase k consigo ler e sentir o k leio, faz um favor tá nao pares, continua sempre a escrever =) e da um miminho bom á tua musa =) ass: gatacas

    ResponderEliminar
  21. Fiquei encantada com seu blog, você escreve super bem!!

    ResponderEliminar
  22. obrigada por me seguires ;

    ResponderEliminar
  23. Há uma ano visitaste o meu blog.
    Tenho andado a ler o teu e estou encantada.
    Gosto muito da tua maneira de escrever. Penso que é teu. Pois deverias pensar em compilares esses textos e escreveres um livro. Pensa numa coisa em grande...
    Voltarei

    ResponderEliminar
  24. Muito bonito, seu blog.
    Gostei, Ivo.
    Abraço.

    ResponderEliminar
  25. a solidão é baça ...nem sequer é transparente..

    gostei :)

    bj
    teresa

    ResponderEliminar
  26. Wow... ainda bem que vim "cuscar" ;) pois adorei*** belos textos **

    ResponderEliminar